06/10/2019

Atleta de Jaguariúna treina com a Seleção Brasileira de Amputados

Bruno Rafael mora em Jaguariúna e joga no time da Ponte Preta de Amputados há dois anos

Wagner Luan

O último final de semana foi especial para o atleta e morador de Jaguariúna, Bruno Rafael dos Santos, de 27 anos. O jovem, que joga no time Ponte Preta de Amputados, foi convidado para participar de um treinamento com a Seleção Brasileira de Amputados.

Bruno conta que recebeu o convite pelo telefone. “Era um sábado, eu estava em casa, quando eles ligaram e perguntaram se eu tinha condições de ir treinar, aí respondi que sim e fui”, lembra o atleta.

Ele diz ainda que a chance de treinar da seleção aconteceu após a lesão de outro jogador. “Eu sou jogador da Ponte Preta, só que como teve um jogador da seleção que teve uma lesão e venho treinando e tendo resultados nos campeonatos, eles me convocaram para fazer um treinamento. Vai ter a Copa das Configurações no Brasil e treinei com eles para eles ver o meu potencial”, explicou Bruno.

Apesar de o treino ter sido de apenas um dia, Bruno se mostrou feliz. “Foi uma experiência boa e emocionante. Não sei nem o que falar, só agradecer a Deus e as pessoas que torcem por mim. A expectativa que fica é de jogar a copa e outros campeonatos até conseguir o título de campeão”, frisa o atleta.

Bruno é amputado há três anos, desde que sofreu um acidente na linha de trem. O atleta joga há dois anos no time de amputados da Ponte Preta.

O acidente

Natural de Jundiaí (SP), Bruno Rafael mora em Jaguariúna há 16 anos. Sua história mudou quando ele estava perto de completar 24 anos e sofreu um acidente que terminou com uma de suas pernas amputadas. A tragédia na vida de Bruno, o fez encontrar uma chance de viver com o esporte.

Essa tragédia que mudou vida, aconteceu quando ele usou a linha do trem como atalho para ir embora. “ Eu morava no bairro do Guedes e estava no bairro Nassif, na casa da minha mãe. Eu ia dormir lá, mas acabei mudando de ideia e resolvi ir embora. Se eu fosse pelo caminho comum, iria demorar muito e então resolvi ir caminhando pela linha do trem bem na região aonde uns 5 anos atrás tombou um vagão de trem de açúcar”, relata o atleta.

Durante o trajeto, Bruno caiu em um buraco causado pelo acidente do trem no trilho. “Tudo aconteceu, muito rápido. Quando me vi, já estava com a perna afundada no buraco e foi um sufoco. Comecei a gritar de desespero por ajuda, mas como era fora de hora, as pessoas que passavam de moto ou de carro não acreditavam, achavam que era emboscada”, lembra ele.

Diante da situação, Bruno resolveu lutar pela vida. “Pelo horário, eu vi que não conseguiria ajuda a tempo e como o trem passava de madrugada, se eu ficasse ali, seria atropelado. Foi quando entreguei nas mãos de Deus e puxei a perna que estava afundada no buraco e enroscada nos ferros enferrujados”.

O esportista conta que quando se deu conta da gravidade, já estava passando muito mal e perdendo muito sangue. “Eu desmaiava e acordava e lembrei de um treinamento que fiz na época do exército que podia ir rastejando e fiz isso. Com muita dificuldade quase cheguei na rua para pedir ajuda, mas já não tinha mais forças e desmaiei novamente”.

Já amanhecia, quando uma pessoa passou, viu Bruno caído e acionou o socorro que levou o atleta para o hospital. Como ele tinha perdido muito sangue, os médicos tiveram que amputar sua perna. “Se eu tivesse ficado com a perna no buraco, certamente o trem viria e me mataria atropelado. Sou grato eternamente a Deus que me livrou da morte e colocou esses anjos na minha vida naquele momento”, agradeceu o atleta.

Bruno ficou um mês internado no hospital passando por diversos procedimentos cirúrgicos. No início da amputação, ele acreditou que não conseguiria viver normalmente de novo, já que agora possuía uma deficiência.

O esporte como qualidade de vida

Após o receber alta e ter cicatrizado a cirurgia, Bruno começou a fazer terapia no hospital Boldrine de Campinas e lá ficou sabendo que poderia jogar bola. “ Estávamos numa roda de conversa entre os pacientes e foi falado sobre o time de amputados da Ponte Preta. Eu peguei o contato do capitão do time e sempre dizia que iria ligar, mas nunca ligava”, admite ele.

Depois de quase um ano com o número do capitão do time, Bruno resolveu ir conhecer. “Gostei e já vai fazer dois anos que estou treinando lá. Nunca imaginei que poderia voltar a praticar exercício físico depois do acidente, muito menos jogar bola, mas isso me ajudou muito a recuperar a autoestima”, enaltece o atleta.

Bruno treina duas vezes por semana em Campinas no time da Ponte Preta de Amputado. Além disso frequenta academia e joga bola com pessoas que não possui deficiência. “Eu faço tudo. Só não trabalho ainda porque eu tenho que me acostumar com a prótese, aí como estou em processo de reabilitação eu não voltei ainda. Enquanto isso faço esporte”, pontua.

O jogador já disputou uma Copa do Brasil, um Campeonato Paulista e atualmente joga o Campeonato Brasileiro. Nas duas competições, a equipe ficou em 4º lugar.

Na edição deste ano do Campeonato Paulista, Bruno foi eleito o melhor jogador da competição e recebeu o troféu das mãos do secretário municipal da Pessoa com Deficiência da cidade de São Paulo Cid Torquato.

Apesar de todas as dificuldades, Bruno se mostra feliz e faz planos. “Eu sinto que aos poucos com a força de Deus e com as pessoas que torcem por mim estou me superando. No começo é um tombo, mas Deus sabe de tudo. Espero ter muita saúde, muitos anos de vida para continuar fazendo o que eu mais gosto, que é jogar futebol. Quero poder ter uma prótese boa, porque hoje eu não tenho condições de comprar e um dia ser reconhecido como jogar de futebol para poder consegui patrocínio”, finaliza.

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