15/10/2019

Professora de Jaguariúna fala sobre os desafios da profissão

Keli Cristina leciona na E.M Profª Sada Salomão Hossri para alunos do 1º ano

Wagner Luan

Neste dia 15 de outubro, Dia do Professor, o Portal Jaguariunense homenageia todos os mestres, contando a história da professora Keli Cristina Vigato Lodetti, de 44 anos. Ela exerce o dom de ensinar há 23 anos. Atualmente, ela dá aula na E.M Profeª Sada Salomão Hossri.

Keli conversou com a nossa equipe e falou sobre como surgiu a paixão pelo magistério, os desafios da profissão e o que a motiva a dar aula.

Como surgiu o desejo de dar aula?

“Desde criança, eu já sinalizava que no meu futuro eu poderia ser professora, pois quase todos os dias após a saída das aulas na escola “Coronel Amâncio Bueno”, em que eu estudava, eu e meus amigos da rua nos encontrávamos no porão da minha casa para brincar de “escolinha”. Eu era a professora e eles os meus alunos. Meus instrumentos de trabalho era a lousa (uma placa de trânsito), giz branco – ganhado pela “tia da escola” – e a cartilha Caminho Suave, que era ensinado o “A B C …”. Repetia exatamente tudo que minha professora fazia em sala de aula (fala, atitudes, comportamentos, entre outros), ela era minha referência. Mas revelo que os principais responsáveis pela minha formação e atuação foram meus pais (Nelson e Aparecida). Foram eles que trilharam o meu caminho para me tornar a profissional que sou hoje. Os mesmos valorizavam e valorizam esta profissão até hoje, comparada com a Medicina. Nunca contei a eles na integra a verdadeira realidade que nós, professores, enfrentamos dia a dia. Ouço até hoje por parte deles quando sou citada em alguma conversa: “minha filha é professora”. Esta afirmação traz consigo um sonho deles e meu realizado. E a palavra professor para eles de fato, tem um peso gigante”.

Onde leciona atualmente?

“Leciono como alfabetizadora do primeiro seguimento há 23 anos. Iniciei no ano de 1997 como professora substituta, na época chamado em “caráter excepcional“, substituindo como PB II (segundo segmento / hoje). Durante 2 anos (1998/1999) fui estagiária efetiva contratada pelo Estado e, nos anos seguintes, assumi como professora titular da classe de primeira série na época, até 2001. Nesse período, não sendo efetiva, exercia a função sendo contratada como “ACT” (professor admitido em caráter temporário).

No ano de 2002 prestei um concurso no município de Jaguariúna. Passando por todas as etapas do mesmo, fui efetivada como professora no município, assumindo uma sala de aula na escola já citada, onde leciono de 2002 até os dias de hoje”.

Como foi o início no magistério e na faculdade?

“Inicie o Magistério em 1991 e conclui o mesmo em 1994, sendo um período de muito aprendizado, conhecimento, valorização e respeito pela classe de professores, foi onde aprendi a essência do saber e me identifiquei com o perfil de ser educadora. Essa foi a minha melhor “faculdade” e, infelizmente, não foi valorizada, sendo extinta do plano curricular.

No ano de 1995 iniciei na faculdade o curso de Pedagogia, sendo concluído em 1997. Em janeiro de 2006 a janeiro de 2007, fiz o curso de Especialização em Psicopedagogia, modalidade Pós-Graduação Lato Sensu. E nos anos entre 2011 e 2013, realizei a complementação do curso de Pós Graduação Lato Sensu “Psicopedagogia Clinica e Institucional”. Obs: quando iniciei na Pós Graduação não existia a segunda parte do curso na faculdade , sendo complementado 4 anos após”.

Como surgiu a oportunidade para dar aula para o CEJA?

“Através de provas e classificação/pontuação de professores efetivos. Em geral, este público é atendido por professores formados para atuar no ensino fundamental e que costumam trabalhar paralelamente com crianças das turmas regulares. Quem frequenta a CEJA são adultos que buscam outra finalidade com os estudos. Por isso, o professor precisa fazer adaptações nas escolhas dos temas, na abordagem e no tratamento que da a turma.

Diante disso, é traçado um perfil para que o profissional atue na CEJA. Quem trabalha nesse segmento deve conhecer os alunos, suas expectativas, cultura, as características e suas necessidades de aprendizagem. Através desses dados será feito o planejamento das aulas. As dificuldades também mudam do ensino fundamental para as turmas do CEJA, tendo intervenções pontuais e sistematizadas por parte do professor (a)”.

Qual a diferença em dar aula para crianças e para adultos?

“Quando se trata de aprendizagem escolar, todos são envolvidos, já que a educação não tem idade e pode beneficiar dos mais novos aos mais velhos. Os adultos, sobretudo aqueles que não tiveram oportunidade de estudar quando criança, têm buscado cada vez mais meio para trabalhar e expandir o seu conhecimento, buscando através de formações, cursos e aprendizados de novos domínios, trabalhar novamente sua memória, seu raciocínio de forma à desenvolver mais o intelecto.

Cada aluno é acompanhado de forma individual, as necessidades de aprendizado de uma criança não são iguais às necessidades de aprendizado de um adulto. Para lidar com os perfis e as diferentes necessidades dos alunos, é preciso gostar do que faz, amar a profissão de professor e a experiência é um fator primordial, desempenhando um papel fundamental na hora de planejar uma boa aula, adaptando ao máximo aos objetivos do aluno.

Um professor pode utilizar um plano de aula parecido para trabalhar, desenvolver o mesmo conteúdo para adultos e crianças, diferenciando habilidades. É preciso saber se adaptar aos diferentes públicos de alunos. A maneira de explicar um determinado conteúdo para uma criança, utilizando exemplos, aulas práticas, recursos sonoros e visuais, lúdicos ou atividades diversificadas, não é a mesma maneira de explicar à um adulto que já possui, ele mesmo, uma bagagem de conhecimento. Os sujeitos da aprendizagem devem manter uma relação de igualdade, cada um trazendo para a aula aquilo que conhece. O professor deve sempre partir do conhecimento prévio do aluno”.

Se você fosse ministra da Educação por um dia, o que mudaria para os professores?

“Certamente faria bastante e igual a realidade do município de Jaguariúna aos outros municípios e em nível de Estado, ofereceria e investiria em capacitações de qualidade e valorizaria cada profissional em sua área. Promoveria espaços de compartilhamento de práticas entre professores (como já vem acontecendo na FAJ e nos HTPC’S) fortalecendo vínculos e estimulando a troca entre pares, apoiando educadores, sistematizando e monitorando suas práticas.

Continuaria o uso pedagógico da tecnologia da informação e internet utilizando o sistema apostilado a favor da realização de práticas mais inovadoras, usando a tecnologia lúdica e a criatividade como ferramenta e estímulo ao engajamento e aprendizagem. Levar a tecnologia para a sala de aula e outros espaços da escola extrapolando os limites do laboratório de informática.

Para a educação especial, que é uma modalidade de ensino que perpassa os níveis, etapas e modalidades, onde se realiza atendimento educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos próprios para esse atendimento e orienta os alunos e professores quanto à sua utilização. Fazendo com que todo espaço escolar faça parte da construção de uma sociedade inclusiva, que garanta a igualdade de direitos e valorize as diferenças humanas.

Para isso será necessário desenvolver programas de pesquisa, formação continuada e controle social na área da educação inclusiva”.

O que é ser professor?

“Ser professor é uma profissão que exige muito esforço, preparo, conhecimento, pesquisa, tempo e dedicação, mais ainda, que requer compromisso e comprometimento. Ser professor é compartilhar conhecimento, propagar informação, fazer o outro crescer, mostrar caminhos, dar as mãos e, para isso tudo, é necessário criar vínculos, se aproximar e compreender o outo, o que exige amor.

Todo professor deve estabelecer uma parceria na qual ambos aprendam e cresçam. O professor sabe que é fundamental conduzir seus alunos, mas acima de tudo, respeitar o tempo de cada um, compreendendo que o desenvolvimento humano é constante e contínuo e cada um tem seu ritmo.

Ser professor é isso e muito mais, é investir e acreditar no ser humano, por desejar fazer a diferença no palco da existência e por auxiliar na construção de um presente e futuro mais saudável e próspero.

Não importa se é um professor da educação Infantil, do Fundamental, do Ensino Médio ou EJA, qualquer um deles sabe que é preciso conhecer e reconhecer o contexto de cada aluno, suas necessidades e seu repertório de vida”.

Qual é a maior dificuldade que um professor enfrenta hoje na profissão?

“O desafio do professor de hoje é mediar a relação dos alunos com o mundo que os rodeia no contexto da era da informação. É o planejamento de aulas, pois com a era digital, o professor precisa diversificar suas estratégias de aulas a partir de critérios já conhecidos e possibilitar também a interação do aluno com os conteúdos. Não basta ter excelência acadêmica e dominar os conceitos, o professor precisa criar mobilidade mental em seus alunos, fazendo com que reflitam, participem dos conteúdos e tenham vontade de aprender a partir de desafios e propostas que apresenta a eles.

Com esta ferramenta (internet e o uso da tecnologia), permite que os professores e alunos façam uso do mesmo, tornando-os mais interessados, atentos e consequentemente aprendem com mais intensidade. Portanto, ser professor atualmente, não basta conhecer o conteúdo, exige coragem de planejar aulas mais atrativas nas quais a figura do professor seja mais como um orientador.

Cada aluno é único e apresenta dificuldades especificas e competências, portanto, o educador também deve lecionar os conteúdos a serem realizados por meio de atividades variadas, diversificadas, atendendo as necessidades de todos”.

Se arrepende de alguma coisa nesse período de magistério?

“Nenhuma! Eu vivo aquele ditado que diz: “se arrependa apenas do que não fez”, se pudesse voltar no tempo, faria tudo igual, seria professora novamente”.

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